E um anjinho era menino...


Amigas de infância, amigas para sempre. O que significou o tempo? O que levou a distância? Nada... Ao se encontrarem a alegria é sempre a mesma. Assuntos para conversar? Nossa, são intermináveis...

Ficou na lembrança, uma história deste tempo em que era bastante comum , nas procissões, as mães vestirem suas filhas de anjo para participarem delas. As meninas usavam uma túnica de cetim branco, asas feitas de papel crepom ou com penas brancas de aves e também apresentavam uma tiara com uma estrela reluzente, no alto da cabeça.

Contam que, após o término de uma procissão em homenagem à padroeira da cidade, enquanto se aguardava o início da missa campal, uma turma de anjinhos ( ou seria melhor dizer: “anjinhas”?) resolveu ir até o terreno baldio que ficava atrás da casa paroquial para fazer pipi. Todas se agacharam segurando parte das vestes brancas para que estas não se sujassem, nem ficassem molhadas. Mas um pequenino anjo, de rosto delicado, com longos e cacheados cabelos loiros, ergueu a túnica e, permanecendo de pé, começou a fazer pipi.

- Nossa, tem um menino aqui! – gritou uma delas. Esta surpresa fez com que elas saíssem correndo, assustadas. O anjinho, com inocente espanto, observou a debandada, e pôs-se a correr também, atrás da turma.

Um pouco de história e lembranças...


A escritora Zilda Diniz Fontes, preocupada com a cultura e a história de sua terra natal, escreveu o livro - Morrinhos: de Capela a Cidade dos Pomares. De fato, a pequena igreja, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, que Antônio Correia Bueno fez construir em sua propriedade, ao sul de Goiás, onde chegou na metade do XVII, foi o núcleo de um povoado que mais tarde se tornou cidade. Em 1845 o povoado foi levado a Distrito, com o nome de Vila Bela de Morrinhos, por causa de três pequenos morros existentes nas cercanias da cidade: Morro do Ovo, Morro da Cruz e Morro da Saudade. Em 1882, o Distrito foi elevado definitivamente à condição de município, agora denominado Morrinhos.

A foto acima apresenta a referida igreja, denominada Matriz de Nossa Senhora do Carmo, como era em 1931.

O largo à frente da igreja foi cenário para muitas celebrações, festas, apresentações da banda do maestro Vicente... Ouviu muitas risadas, gritos de meninos e meninas que ali brincavam e jogavam futebol, “queimada”, “bete”... Viu o sorriso feliz de meu pai quando passava “correndo” a 30km/h em seu Ford 29.
Quando a seca se prolongava os moradores rezavam ao pé do cruzeiro, colocado quase no centro do largo. Traziam flores e regavam o pé da cruz, pedindo chuvas. Uma tradição que se conservou por muitos anos.
Nos anos 60, uma estrada cortava o gramado em diagonal e era usada também como pista para corridas de bicicleta. Como era difícil frear na descida, por causa do cascalho derrapante! Quantos tombos, meu Deus! Quantas boas lembranças!

O sino da Matriz

Na torre da Matriz,
À tardinha,
Bate o sino
Que animadamente convida
A turma do padre Lino.

São meninos e meninas
Da Cruzada Eucarística,
No largo da igreja, felizes a brincar,
Antes da reunião começar.

Padre Lino, sempre de batina,
Alegremente dirige os folguedos;
Joga bola, pula corda – não se cansa!
Tem alma de criança!

Nas manhãs de domingo, na missa,
De branco e amarelo fica a igreja enfeitada,
Mais da metade dos bancos,
Só para acomodar a meninada.

Na torre da Matriz,
Hoje diferente, pois o tempo tudo muda,
O mesmo sino, quieto, se cala,
Mas na lembrança, em meu coração, ainda bate...
Também eu fui da turma do padre Lino.

(foto da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, anos 60...)