Tudo tem o seu tempo...



               A semente brota, vêm as folhas, nasce a flor, forma-se a vagem; e o grão, ainda embrião, começa a crescer, fica maduro e pronto para servir de alimento ou ser uma nova semente. Tudo leva tempo. Tudo tem o seu tempo. Não há pressa na natureza. Aprendamos com ela a lição da paciência. Na natureza tudo evolui, nada fica parado, mas também não corre, nem pula etapas...
               Vem a chuva que traz dias cinzentos, frios. Vem o sol que realça as cores e nos traz uma sensação de maior liberdade. E as plantas agradecem tanto o sol quanto a chuva.  Tudo tem o seu tempo. Aprendamos com a natureza a aceitar e agradecer pela vida que traz dias de alegria  e  também de tristeza. Tudo passa e o tempo segue.  Feliz aquele que confia no Criador e  acredita em Seu amor por nós. Assim, consegue agradecer os dias bons e também os maus, pois sabe que tudo vem para o seu bem, mesmo que no momento presente não consiga entender muitas coisas, principalmente as que o fazem sofrer.
     

É Natal!


"Bom Natal! Feliz Ano Novo!
 Escolhi este cartão pelo significado simbólico que lhe quero dar. Jesus Cristo é chamado na Bíblia o Sol que vem do oriente para iluminar nossa existência. É para isso que Ele nasce e renasce no Natal. Para indicar que no horizonte do novo ano sempre brilha a esperança de realizar o novo ou de continuar construindo nossa história com a beleza e a grandeza que ela possui. As montanhas recordam a necessidade da fortaleza interior e as praias a paz interior.
 Desejo-lhes tudo isso,"

(Cartão recebido no Natal de 1997)

Um presente de primavera


Desta vez saudei esta primavera, que começou ontem, sem o entusiasmo, a alegria com que todos os anos a recebo. Entristecida por problemas de saúde em pessoas tão queridas para mim, olhei-a com desconfiança ou melhor, desesperança. Sempre acreditei que boas novas traria todos os anos esta estação em que as folhas das árvores se renovam, as cigarras voltam a cantar, os passarinhos constroem seus ninhos, os flamboyants florescem e tantas outras coisas belas. Mas desta vez, confesso, meu entusiasmo com a chegada da primavera ficou guardado em alguma gaveta.
Mas, ela não me decepcionou! Um pequeno (grande) gesto de amor, uma surpresa matinal me veio alegrar o coração. Ao entrar na cozinha para fazer o café, sobre a mesa estava o meu presente de primavera: Duas rosas brancas e um bilhete.
Tudo bem simples: o bilhete escrito às pressas num papel qualquer, as rosas “colhidas” decerto na decoração do baile onde tinha ido e o mais importante: o perfume! Perfume de amor, de carinho que, superando o cansaço da madrugada, preparou-me esta surpresa feliz.
Meu coração sorriu! E a primavera realmente começou!

Pequenas felicidades


Manhã bonita de maio. Céu azul e ar fresco. Olho pela janela do apartamento. Duas crianças brincam no jardim do prédio. Estou no primeiro andar. Ouço-as:
- Você sabe cantar? - diz um menino de uns 6 anos que está sentado no chão; pernas abertas e apoiado nos braços para trás.
- Sei – responde o outro que tem no máximo 4 anos, talvez menos, e está montado num velotrol.
E começam a cantar:- Mãezinha do céu / Eu não sei rezar./ Eu só sei dizer/ Que eu quero te amaaar!
O menino do velotrol não pronuncia todas as palavras, como faz seu amigo, mas ouço sua voz principalmente nas palavras finais de cada verso...
Fico encantada e penso: - Com certeza só sabem a primeira estrofe.
Mas, para minha surpresa eles continuam:
- Azul é teu manto / E branco é o teu véu/ Mãezinha eu quero / Te ver lá no céééu!
Talvez cantassem mais uma estrofe, se não aparecesse outro menino também num velotrol correndo em direção a eles, aparentemente sem a mínima intenção de frear.
- Cuidaaado, Lucas!- grita uma mulher que vem logo atrás...

Fiquei feliz com o que vi e, principalmente, ouvi no breve tempo em que fiquei à janela. Lembrei-me destas palavras de Cecília Meireles: "Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.”

E nossa Mãezinha do céu com certeza ficou sorrindo por esta bela e inocente homenagem que acabara de receber!

Encontro "mágico"


Minha amiga Bia vem eufórica a meu encontro; e com um amplo sorriso nos lábios vai dizendo:
- Mari, aconteceu algo incrível comigo! Estava voltando para casa depois de atender a um paciente (Bia é fisioterapeuta) quando, parada no sinal vermelho, olhei para o carro ao lado e vi um homem que me agradou à primeira vista. Ele também me olhava com simpatia. Normalmente sou tímida, você sabe, mas fui a primeira a falar:
- Oi, mas que calor hoje, né? A cidade parece estar pegando fogo!
- Ele sorriu e me mostrou uma garrafinha de água gelada:
- Quer se refrescar? Tome um pouco!
Sorri dizendo:
- Seria ótimo, mas como?
- Paramos ali adiante, quer?
Acenei um sim, satisfeita com minha “coragem”.
O sinal verde apareceu.
Deixei-o partir alguns segundos antes de mim e fiquei observando o carro dele. Para minha surpresa- pois não acreditava muito que fosse parar- ele sinalizou e logo parou. Estacionei em seguida. Descemos do carro e nos apresentamos.
- Eitor, sem “h”.
- Beatris , com “s”. Ambos rimos de nossos nomes. E o melhor foi que, ao invés de darmos as mãos num cumprimento normal, ele me abraçou carinhosamente, sem me apertar muito.
Que abraço gostoso, Mari! Como me senti bem! Fazia tanto tempo que eu não ganhava um assim.
Conversamos um pouco e trocamos cartões. Ele trabalha para esta empresa aqui. Veja o cartão. Não chegamos a falar de nossa vida pessoal. Não sei se é casado. Acho que a atração mútua foi tão forte que ele se esqueceu de me oferecer água e eu nem me lembrei de estar com sede. Ficamos de nos telefonar. O que acha, Mari? Devo ligar para ele? Ou espero seu telefonema?
- Calma, Bia - falei. Não demonstre tanta ansiedade. Você pode até ligar para ele mas espere um pouco. Talvez ele ligue primeiro. Dê um tempinho e fique feliz por este encontro mágico que lhe aconteceu.

Não sei se dei um bom conselho e fiquei pensando. Vários relacionamentos duradouros começam assim; mas a vida também nos traz surpresas e momentos felizes que nem sempre podem ser prolongados ou repetidos. É uma emoção única e quase mágica, mas passageira. E nem por isso deixa de ser bela e de trazer cor a nossos dias!

Pôr do sol na roça


Pôr do sol na roça. As sombras são cada vez mais compridas. O canto dos passarinhos vai diminuindo aos poucos. As galinhas e galos se encaminham para um lugar mais alto, onde passarão a noite em segurança. Com que paz e sossego as vacas pastam ou ruminam deitadas no capim!

Sentado à porta da casa Antônio contempla com olhar distante o sol que se despede. Por companhia tem um cigarro e o cachorro que dorme a seus pés. Há vários anos vive ali sozinho. Já se acostumara àquela vida mas, às vezes, uma certa tristeza o envolve ao cair da noite. Uma pequena flor do campo perto de sua casa o faz voltar no tempo neste momento. O vermelho vivo da flor lembrou-lhe o vestido e o batom que Ritinha usava na festa junina onde a conhecera. Morena simpática, sorridente, de vivos olhos castanhos, corpo de sereia. Ela o conquistara no primeiro olhar: - Oi, Antônio! Está gostando da festa? Ele, surpreso por ela já saber seu nome, respondeu meio encabulado: - Sim, tá boa mesmo! Queria falar mais, porém ela já se voltara para outra pessoa, com quem também conversava. Mais tarde dançou com ela e se sentiu o homem mais feliz do mundo. Começaram um namoro, mas não durou muito. Ritinha era bonita, tinha outros pretendentes e entre estes um teve mais sorte que Antônio. Passaram-se os anos e Antônio casou-se com Zilda. Também o casamento durou pouco, pois ele ficou viúvo três anos depois. Não quis se envolver com mais ninguém.

O sol se foi e agora na escuridão do céu as estrelas brilham. No rosto de Antônio brilha uma lágrima. A flor vermelha o fez reviver uma saudade há muito tempo adormecida em seu peito...Antônio sente fome, levanta-se e vai para a cozinha preparar sua janta. Mais um dia termina e a vida segue....

Francisca Maria das Neves e a guariroba


A “incansável” Chiquinha acordava bem cedinho e só ia para cama depois que deixasse a cozinha de sua patroa, D. Gilda, brilhando depois do jantar. Fazia muitos anos que trabalhava naquela casa. Cuidara com carinho materno dos meninos, os filhos de D.Gilda, que eram pequeninos quando ali chegara. Quando se tornaram rapazes e já não precisavam mais de seus cuidados, ela os mimava fazendo pratos que eles apreciavam muito.
Um dia...
- Chiquinha, hoje minhas irmãs vêm almoçar, capriche na gueroba, não se esqueça de salgar bem. - disse D.Gilda.
Tudo preparado para começar o almoço e Chiquinha capricha no tempero do “prato principal”: a guariroba.
Pouco depois chega uma das irmãs:
- Bom dia, Chiquinha!
Vai até fogão, destampa as panelas e diz: - Ah, vamos ter gueroba! A Gilda sabe que gosto muito... Não se esqueça do sal! No sabor da gueroba tem que aparecer um pouco do sal. E, provando a “iguaria”, resolve por mais um pouco de sal.
Minutos mais tarde chega à porta da cozinha a outra irmã de Gilda:
- Oi, Chiquinha! A Gilda me disse que hoje ia ter gueroba. Deixa eu provar. Humm, vou por só mais um pouquinho de sal. Que delícia! E vai embora com um sorriso nos lábios.
Chiquinha, irritada, vai até o saleiro, pega um punhado de sal com a mão e despeja sobre a guariroba...
Depois de completar trinta anos de idade Chiquinha arranjou um namorado. Casou-se, foi embora, teve um casal de filhos e continuou sua vida de muito trabalho. O marido bebia muito e às vezes lhe batia. Mas agora ela tinha seus próprios filhos e sua própria casa. Um sonho antigo!