Pequenas felicidades


Manhã bonita de maio. Céu azul e ar fresco. Olho pela janela do apartamento. Duas crianças brincam no jardim do prédio. Estou no primeiro andar. Ouço-as:
- Você sabe cantar? - diz um menino de uns 6 anos que está sentado no chão; pernas abertas e apoiado nos braços para trás.
- Sei – responde o outro que tem no máximo 4 anos, talvez menos, e está montado num velotrol.
E começam a cantar:- Mãezinha do céu / Eu não sei rezar./ Eu só sei dizer/ Que eu quero te amaaar!
O menino do velotrol não pronuncia todas as palavras, como faz seu amigo, mas ouço sua voz principalmente nas palavras finais de cada verso...
Fico encantada e penso: - Com certeza só sabem a primeira estrofe.
Mas, para minha surpresa eles continuam:
- Azul é teu manto / E branco é o teu véu/ Mãezinha eu quero / Te ver lá no céééu!
Talvez cantassem mais uma estrofe, se não aparecesse outro menino também num velotrol correndo em direção a eles, aparentemente sem a mínima intenção de frear.
- Cuidaaado, Lucas!- grita uma mulher que vem logo atrás...

Fiquei feliz com o que vi e, principalmente, ouvi no breve tempo em que fiquei à janela. Lembrei-me destas palavras de Cecília Meireles: "Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.”

E nossa Mãezinha do céu com certeza ficou sorrindo por esta bela e inocente homenagem que acabara de receber!

Encontro "mágico"


Minha amiga Bia vem eufórica a meu encontro; e com um amplo sorriso nos lábios vai dizendo:
- Mari, aconteceu algo incrível comigo! Estava voltando para casa depois de atender a um paciente (Bia é fisioterapeuta) quando, parada no sinal vermelho, olhei para o carro ao lado e vi um homem que me agradou à primeira vista. Ele também me olhava com simpatia. Normalmente sou tímida, você sabe, mas fui a primeira a falar:
- Oi, mas que calor hoje, né? A cidade parece estar pegando fogo!
- Ele sorriu e me mostrou uma garrafinha de água gelada:
- Quer se refrescar? Tome um pouco!
Sorri dizendo:
- Seria ótimo, mas como?
- Paramos ali adiante, quer?
Acenei um sim, satisfeita com minha “coragem”.
O sinal verde apareceu.
Deixei-o partir alguns segundos antes de mim e fiquei observando o carro dele. Para minha surpresa- pois não acreditava muito que fosse parar- ele sinalizou e logo parou. Estacionei em seguida. Descemos do carro e nos apresentamos.
- Eitor, sem “h”.
- Beatris , com “s”. Ambos rimos de nossos nomes. E o melhor foi que, ao invés de darmos as mãos num cumprimento normal, ele me abraçou carinhosamente, sem me apertar muito.
Que abraço gostoso, Mari! Como me senti bem! Fazia tanto tempo que eu não ganhava um assim.
Conversamos um pouco e trocamos cartões. Ele trabalha para esta empresa aqui. Veja o cartão. Não chegamos a falar de nossa vida pessoal. Não sei se é casado. Acho que a atração mútua foi tão forte que ele se esqueceu de me oferecer água e eu nem me lembrei de estar com sede. Ficamos de nos telefonar. O que acha, Mari? Devo ligar para ele? Ou espero seu telefonema?
- Calma, Bia - falei. Não demonstre tanta ansiedade. Você pode até ligar para ele mas espere um pouco. Talvez ele ligue primeiro. Dê um tempinho e fique feliz por este encontro mágico que lhe aconteceu.

Não sei se dei um bom conselho e fiquei pensando. Vários relacionamentos duradouros começam assim; mas a vida também nos traz surpresas e momentos felizes que nem sempre podem ser prolongados ou repetidos. É uma emoção única e quase mágica, mas passageira. E nem por isso deixa de ser bela e de trazer cor a nossos dias!