Francisca Maria das Neves e a guariroba


A “incansável” Chiquinha acordava bem cedinho e só ia para cama depois que deixasse a cozinha de sua patroa, D. Gilda, brilhando depois do jantar. Fazia muitos anos que trabalhava naquela casa. Cuidara com carinho materno dos meninos, os filhos de D.Gilda, que eram pequeninos quando ali chegara. Quando se tornaram rapazes e já não precisavam mais de seus cuidados, ela os mimava fazendo pratos que eles apreciavam muito.
Um dia...
- Chiquinha, hoje minhas irmãs vêm almoçar, capriche na gueroba, não se esqueça de salgar bem. - disse D.Gilda.
Tudo preparado para começar o almoço e Chiquinha capricha no tempero do “prato principal”: a guariroba.
Pouco depois chega uma das irmãs:
- Bom dia, Chiquinha!
Vai até fogão, destampa as panelas e diz: - Ah, vamos ter gueroba! A Gilda sabe que gosto muito... Não se esqueça do sal! No sabor da gueroba tem que aparecer um pouco do sal. E, provando a “iguaria”, resolve por mais um pouco de sal.
Minutos mais tarde chega à porta da cozinha a outra irmã de Gilda:
- Oi, Chiquinha! A Gilda me disse que hoje ia ter gueroba. Deixa eu provar. Humm, vou por só mais um pouquinho de sal. Que delícia! E vai embora com um sorriso nos lábios.
Chiquinha, irritada, vai até o saleiro, pega um punhado de sal com a mão e despeja sobre a guariroba...
Depois de completar trinta anos de idade Chiquinha arranjou um namorado. Casou-se, foi embora, teve um casal de filhos e continuou sua vida de muito trabalho. O marido bebia muito e às vezes lhe batia. Mas agora ela tinha seus próprios filhos e sua própria casa. Um sonho antigo!