O fordinho do circo


Quantas boas lembranças das férias na infância em Morrinhos! Vinham de S.Paulo um casal de primos e sua mãe, minha alegre tia. A casa ficava em festa! Passeios para tomar banho de córrego à tarde, histórias de assombração à noite, brincadeiras o dia todo! Nosso cenário preferido - o grande quintal onde, debaixo da velha mangueira, uma oficina mecânica nos atraía pelos "perigos" ali representados pelas ferramentas, pela rampa onde subiam os carros... Tudo bem mais interessante que os inofensivos brinquedos comprados na loja. - Não mexa aí, menino! - Não suba correndo, menina! As ordens de nossas mães não eram sequer ouvidas.
Numa tarde, um fordinho do circo foi deixado na oficina para conserto. Não terminaram o serviço e o carro teve que passar a noite ali. O olhar curioso de três crianças aguardava uma oportunidade para tocar com as mãos o que os olhos viam. Enquanto nossas mães preparavam o jantar - e os mecânicos já tinham ido embora - corremos para lá e começamos a explorar o veículo mágico. E foi assim: entra no carro; sobe aqui, desce ali; aperta um botão - espirra água do radiador; aperta outro - o carro dá um tiro! Risada geral! Era uma festa! De repente, alguém puxou uma pequena alavanca e minha prima "vazou" por uma cavidade que se abriu sob o lugar onde estava sentada. Seu joelho se feriu na queda, corte profundo. Choro, gritaria, bronca de mães...
A dor passou, o fordinho foi embora com o circo... Mas, até hoje, permanece a cicatriz no joelho da prima mais sapeca e, no coração dos três, a alegre lembrança daqueles dias de férias.

Um livro para reler...


Às vezes algumas “pérolas” caem em nossas mãos por acaso. Assim aconteceu com o livro Lua de Primavera, de Bette Bao Lord. Foi comprado num passeio de férias, pela beleza da capa e do título. Nenhuma recomendação, autora desconhecida... E - que feliz surpresa! - uma história que ficou no coração, para ser lembrada com carinho; um livro que permanece na cabeceira, para ser relido com prazer...
Trata-se de um romance de rara beleza e simplicidade. Narra a vida de uma mulher chinesa chamada Lua de Primavera, cuja existência ultrapassou noventa anos. Acompanhamos os acontecimentos de sua vida e dos demais personagens a ela ligados, paralelamente aos fatos históricos da civilização chinesa. Desde 1892, quinto reinado do Imperador Huang Hsu, passando pela longa revolução, até a década de 70... Mergulhamos no mundo fascinante e misterioso desta cultura oriental, onde os sentimentos estão subordinados ao dever, à honra, às tradições. A vida se nos apresenta com todas as suas cores e dores, na qual poesia e história caminham juntas.

“No fim, sempre capitulamos... à tradição, aos estrangeiros, à família, à autoridade, ao dever. A tudo e a todos, vivos e mortos, menos às nossas necessidades, aos nossos sonhos, às nossas emoções!”
“Afinal de contas, quem pode realizar cada sonho? Para muitos, uma ilusão, mesmo por pouco tempo, é bastante.”

16 de julho - Morrinhos - 164 anos de história