Pôr do sol na roça


Pôr do sol na roça. As sombras são cada vez mais compridas. O canto dos passarinhos vai diminuindo aos poucos. As galinhas e galos se encaminham para um lugar mais alto, onde passarão a noite em segurança. Com que paz e sossego as vacas pastam ou ruminam deitadas no capim!

Sentado à porta da casa Antônio contempla com olhar distante o sol que se despede. Por companhia tem um cigarro e o cachorro que dorme a seus pés. Há vários anos vive ali sozinho. Já se acostumara àquela vida mas, às vezes, uma certa tristeza o envolve ao cair da noite. Uma pequena flor do campo perto de sua casa o faz voltar no tempo neste momento. O vermelho vivo da flor lembrou-lhe o vestido e o batom que Ritinha usava na festa junina onde a conhecera. Morena simpática, sorridente, de vivos olhos castanhos, corpo de sereia. Ela o conquistara no primeiro olhar: - Oi, Antônio! Está gostando da festa? Ele, surpreso por ela já saber seu nome, respondeu meio encabulado: - Sim, tá boa mesmo! Queria falar mais, porém ela já se voltara para outra pessoa, com quem também conversava. Mais tarde dançou com ela e se sentiu o homem mais feliz do mundo. Começaram um namoro, mas não durou muito. Ritinha era bonita, tinha outros pretendentes e entre estes um teve mais sorte que Antônio. Passaram-se os anos e Antônio casou-se com Zilda. Também o casamento durou pouco, pois ele ficou viúvo três anos depois. Não quis se envolver com mais ninguém.

O sol se foi e agora na escuridão do céu as estrelas brilham. No rosto de Antônio brilha uma lágrima. A flor vermelha o fez reviver uma saudade há muito tempo adormecida em seu peito...Antônio sente fome, levanta-se e vai para a cozinha preparar sua janta. Mais um dia termina e a vida segue....