Nascimento de S. João - Verdades e lenda se completam


Maria, antes de Jesus nascer,
Levando-o já no ventre,
Sua prima Isabel foi visitar.
Uma tão jovem, a outra de idade avançada,
Uma à espera do Salvador,
A outra de seu precursor...

Na saudação de Maria, na alegria do abraço amigo,
O menino de Isabel exulta em seu ventre,
E o Santo Espírito a faz exclamar:
“- Você é bendita entre as mulheres,
E bendito é o fruto de seu ventre!
Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”

E Maria se põe a dizer:
“A minha alma glorifica o Senhor,
“E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador...”.
E completou o Magnificat, seu belíssimo canto!
Quem ainda não o conhece
Em Lucas 1, 46-55 lerá esta prece.

E Maria, por três meses com Isabel ficou...
Tudo isto sabemos porque Lucas,
Depois de fazer cuidadoso estudo
De tudo o que aconteceu desde o início,
Esta narrativa nos deixou.

Mas uma lenda esta história veio completar,
Dizem que ao se despedir de Isabel
Maria, preocupada, falou:
- Como ficarei sabendo que o menino nasceu?
Isabel, num sorriso, sua prima tranqüilizou:
- Farei uma grande fogueira,
Assim, de longe, você poderá vê-la.

- Um mastro também erguerei,
Um boneco sobre ele irei colocar.
E assim todos saberão
E também você, Maria,
Que nasceu o pequeno João,
Que a Zacarias e a mim traz tanta alegria!

Diz a lenda que Isabel cumpriu sua promessa. E este costume se mantém até hoje. Nas comemorações do dia de S.João, principalmente no interior, depois da oração do terço ou da missa, acende-se uma fogueira, normalmente alta. Um mastro com a imagem de S.João no topo é erguido ao som de estouro de foguetes e gritos de “Viva S.João!”.

Lembranças de uma quadrilha junina


A festa junina sempre foi o acontecimento do ano para as alunas do colégio das irmãs na pequena cidade do interior de Goiás. A dança da quadrilha era esperada com ansiedade, inclusive por mim. Como era uma escola feminina, os pares eram formados com a presença dos alunos do colégio dos padres, o Ginásio Senador. Um mês antes eram enviados à escola das moças os nomes dos rapazes do Ginásio que queriam participar da quadrilha. Fazia-se, então, um sorteio...

Numa fria sexta feira de maio estávamos reunidas no pátio para o bendito sorteio. Fui a primeira a pegar o papelzinho e li: - Samuel. ( Como será ele?) Não o conhecia, nem minhas colegas do lado, que também tiraram o nome de seus pares: Divina ficou com Paulo César, Cleide com Vanderlei... Minha colega Gislene, ao pegar seu papelzinho, leu o nome em voz alta, soletrando as sílabas. Talvez estranhasse o nome que era: - Al-ce-bí-a-des. Imediatamente apareceu alguém dizendo: - Troca comigo! E uma outra: - Não, troca comigo, saí com meu primo, não quero dançar com ele. Gislene, espantada, pensou um pouco, deu um sorriso e disse: - Não, ele deve ser bonito, senão vocês não iam querer trocar.

Primeiro dia de ensaio da quadrilha. Moças e rapazes reunidos na quadra de esportes. Uma colega me procura: - Maria, você tirou o nome do Samuel, mas ele mandou lhe avisar que tem namorada neste colégio e quer dançar com ela. E Maria ficou ali, sem par... Porém, o marcador da quadrilha nos reuniu no centro da quadra e disse: - Neste ano vamos mudar a forma de organizar os pares. Façam as duas filas por ordem de tamanho. Assim o fizemos. Eu, apesar de ser uma das mais novas, era uma das mais altas. As filas se aproximaram uma da outra e formamos os pares. E quem ficou do meu lado? O belo e cobiçado Alcebíades!(Que sorte!!!) De fato, ele era o rapaz mais bonito da turma. Alto, moreno claro, ombros largos, fartos cabelos lisos e escuros, olhos de um castanho esverdeado, sorriso simpático...

Segundo dia de ensaio da quadrilha. Fui uma das primeiras a chegar. Uma das moças se aproximou de mim e disse: - O Alcebíades mandou lhe dizer que não vai dançar com você. Ele quer dançar com uma moça e você é menina. (Fazer o que? Eu tinha boa estatura e corpo de moça, mas apenas onze anos!). E lá ficou Maria, sem par novamente... Porém, no início do ensaio, arranjaram-me um novo parceiro: Luiz Antônio, primo do Alcebíades. Semelhante a ele apenas na estatura e na idade. Era um rapaz sério, calado, que não tinha namorada, nem se importou de dançar com uma menina. Não faltou aos ensaios e estava animado e alegre no dia da apresentação.

A festa junina daquele ano, no Ginásio Maria Amabini, foi um sucesso. A dança da quadrilha, inesquecível para todos os participantes. E o belo Alcebíades? Acabou não dançando com ninguém e creio que nem compareceu à festa...