Bola de Pano


                                (poesia de José Luiz Nemes)
"Os pés descalços, em folia.
Que alegria!
O bando da rua Alvim,
De bola pobre e vida cheia,
Com ânsias, no coração
A gritar,
Para o jogo começar.

A menina, brinde no portão,
Em botão!
Sob a roseira, princesa em flor.
A murchar, o velhinho,
Sentado, ofegante.
A rua,
Para campo se faz nua.

A meia, bordada a fiapos.
Que trapos!
Correndo em festa,
Dá vida a uma fada.
Os olhos distrai
De quem
Do sorriso não vai além.

O sol cobiçado em profusão:
Que bolão!
Mas... algum desastre, na certa
Apitou o final, na confusão.
Do corre-corre ao alarme
Foi morte
De qualquer janela sem sorte.

Hoje a rua de nome mudou.
Se doutorou!
A flor, na paz da ternura
Ao mundo se abriu.
A tristeza não esqueceu
A lembrança
De quem já descansa.

De luto o campo se vestiu.
Ressentiu!
A meia, que era inteira,
Retalhos de couro virou.
A saudade embala
O sabor
Que em tudo punha cor."

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